terça-feira, 11 de março de 2014

O Fim do Cangaço

        O cangaço teve seu fim basicamente em meados da década de 1930. O presidente Getúlio Vargas, durante o Estado Novo, decidiu acabar com todos e qualquer foco de desordem sobre o território nacional. Incluiu Lampião e seus cangaceiros na categoria de extremistas.   

        A data da morte de Lampião, um grande ícone do cangaço, veio a marcar o final do cangaço, pois a partir desta os chefes dos outros bandos existentes no nordeste brasileiro vieram a se entregar às autoridades policiais para não serem mortos com medo de terem o mesmo fim de Virgulino e alguns de seus homens. 

       Mas não foi só a morte de Lampião e a "caçada" aos cangaceiros que levaram o fim desse movimento, outro ponto que também deve ser levado em consideração são as novas perspectivas de sobrevivência e trabalho apontavam para melhores condições de vida do nordestino. A década de 1930 foi muito difícil economicamente para o Nordeste Brasileiro. Era uma época em que as lavouras de cana-de-açúcar e de algodão eram exportadas e passavam por um processo grave de crise, em consequência da queda de preços do mercado internacional. A paralisação econômica da região resultou na crescente miséria das populações sertanejas que eram vítimas do jugo dos grandes proprietários de terra e de fatores naturais, como a seca. Para essa população sertaneja, não havia nenhuma possibilidade de migração para os prósperos centros do sul do país, como São Paulo. Os braços utilizados nas lavouras de café e no processo de industrialização eram, em sua maioria, europeus e asiáticos, já que a partir de 1908 o Sul do país recebeu os primeiros imigrantes japoneses. 

       A imigração de estrangeiros para o Brasil sempre fora muito intensa desde quando o governo do Império, a partir de 1850, passou a incentivar a vinda de imigrantes para o Brasil. Seus principais objetivos eram o povoamento de regiões vazias, a valorização das terras que seriam ocupadas pelos imigrantes e a produção de alimentos que pudessem abastecer as lavouras de café. A partir de meados dos anos de 1870, e sobretudo com o fim da escravidão no país, a migração estrangeira em direção ao Brasil ganhou maior volume, intensidade e uma nova configuração. Nessa época, o governo brasileiro passou a adotar uma política migratória visando atrair mão de obra livre estrangeira para substituir o trabalho escravo que estava com seus dias contados na agricultura de exportação, em pleno desenvolvimento. Ao mesmo tempo, mas com menor intensidade, abria novas possibilidades de assentamento de famílias estrangeiras em áreas de predomínio da pequena propriedade, o que já vinha fazendo a partir dos anos 20 do século XIX.
  
        O término da política de incentivos em São Paulo (em 1927), juntamente com a crise se superprodução do café (que alcançou seu auge em 1930), as restrições ao movimento imigratório impostas pelo governo brasileiro nos anos 30 e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), entre outros fatores, levaram a uma diminuição desse movimento em direção ao Brasil. As restrições à imigração só se afrouxaram após a Segunda Guerra Mundial, o que permitiu que novos contingentes de imigrantes viessem para o Brasil. Porém, o volume dessas entradas tornou-se bem inferior àquele observado nas últimas décadas do século XIX e décadas iniciais do século XX, período áureo da imigração de massa no Brasil. Sem incentivos à imigração, o motivo desse fluxo eram os problemas sociais e econômicos vividos pelos imigrantes nos seus países de origem. 

       Com a diminuição da entrada de imigrantes no país começa então um êxodo da população nordestina até o centro-sul do país. A migração nordestina para o Sudeste do país, em especial para a São Paulo, foi um fenômeno demográfico bastante relevante até principalmente a partir da década de 1930 (durante a Era Vargas), quando o número de migrantes nacionais superou o de imigrantes vindos de outros países, tornando essa migração muito intensa. 

       O forte processo de desenvolvimento econômico-industrial pelo qual passavam os locais de destino dos migrantes nordestinos nesse período (1930-1980), ou seja, o sudeste, em especial São Paulo, graças ao acúmulo de capital do setor cafeeiro desde o século XIX e à políticas protecionistas e de substituição de importações que relativamente favoreceram a região. Em oposição, a região nordeste, ainda mantinha características antigas: agricultura atrasada e pouco diversificada, economia estagnada, grandes latifundiáriosconcentração de renda e uma indústria pouco diversificada e de baixa produtividade; além do fenômeno natural de secas constantes. As distintas características dessas duas regiões, além de acentuar as desigualdades regionais, formaram um cenário propício à migração nordestina, em especial às áreas urbanas. 

        Esses são os principais motivos que causaram o fim desse movimento social revolucionário, que não se limitou ao meio e ao contexto em que foi criado, que buscou mudanças, na medida do possível, e que modificou, junto com outros movimentos sociais da época, todo o senário social vivido.
  

6 comentários: