segunda-feira, 10 de março de 2014

Cangaceiros: Heróis ou Vilões

       Esse é um tema que gera muita polêmica e discussão: cangaceiros: heróis ou bandidos. Muitas teses, teorias, TCCS, reportagens, documentários, etc., foram realizados falando do modo de vida dos cangaceiros, seus feitos, seus crimes e em que contribuíram para a sociedade da época, mas ainda assim existe essa dúvida no ar.   

      Há muitos que afirmam que eles eram uma espécie de Robin Hood do sertão, que por trás de todos os malfeitos, todos os crimes, eles também ajudaram muito os sertanejos da época como o próprio Robin, tirava dos ricos, no caso os coronéis, as oligarquias, e dava aos pobres, no caso o sofrido sertanejo.  
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     O historiador britânico Eric Hobsbawm foi além desses motivos. Se conhecermos bem a história de Robin Hood saberemos que além de ladrão ele era um rebelde que ia contra os nobres(governo) e a sociedade da época. Ao avaliar bem a história dos cangaceiros pode-se ver essa mesma característica. Em sua obra ele estabelece semelhanças sobre o comportamento criminoso e a rebeldia conta a sociedade e o Estado, usando exemplos de diversas épocas e países. Retrata, assim, a história de criminosos, ladrões, desafiadores das leis e da ordem.  

       Segundo Hobsbawm, os foras da lei são os frutos da ausência e da instabilidade do Estado. Os estudos contidos na publicação originaram um novo campo das ciências humanas: o banditismo social. Não se pode negar que a maior parte dos sertanejos que entravam no cangaço tinham como razões questões que envolvem esse abandono governamental, como: A situação de seu povo, a pobreza, as péssimas condições de vida, injustiça, o poderio dos oligarcas, o abandono regional, etc.   

       Para a neta de Lampião, a historiadora Vera Ferreira, o rótulo de ‘bandido ou herói’ é muito simplista. “Eu costumo dizer que cangaceiros foram homens que disseram não a situação, porque se nós olharmos o passado do cangaço e analisá-lo somos remetidos para uma época social, econômico e cultural de muita pobreza no sertão, como ainda hoje é. Lá não existia uma autoridade, o sertanejo passava necessidades e ainda era explorado. Aí que o cangaço entra e se firma pela ausência de autoridade”, aponta.  

      Para muitos sertanejos, assim como Robin é um herói, os cangaceiros para muitos também são. é claro que eles tinham suas próprias leis, e agiam a seu próprio modo, mas em tempos de abandono eles eram em muitos casos o auxilio e suporte da população mais pobre.   

       Assim como há os que defendem eles como heróis existem também os que os jugam como bandidos e malfeitores que prejudicaram a sociedade nordestina no geral. Para muitos historiadores eles não seriam um justiceiros românticos,  "Robins Hood" da caatinga, mas criminosos cruéis e sanguinários, aliados de coronéis e grandes proprietários de terra.   
Historiadores, antropólogos e cientistas sociais contemporâneos chegam à conclusão nada confortável para a memória do cangaço: no Brasil rural da primeira metade do século 20, a ação de bandos como o de Lampião desempenhou um papel equivalente ao dos traficantes de drogas que hoje sequestram, matam e corrompem nas grandes metrópoles do país.   

      Foram os cangaceiros que introduziram o sequestro em larga escala no Brasil. Faziam reféns em troca de dinheiro para financiar novos crimes. Caso não recebessem o resgate, torturavam e matavam as vítimas, a tiro ou punhaladas. A extorsão era outra fonte de renda. Mandavam cartas, nas quais exigiam quantias astronômicas para não invadir cidades, atear fogo em casas e derramar sangue inocente. Ofereciam salvo-condutos, com os quais garantiam proteção a quem lhes desse abrigo e cobertura, os chamados coiteiros. Sempre foram implacáveis com quem atravessava seu caminho: estupravam, castravam, aterrorizavam. Corrompiam oficiais militares e autoridades civis, de quem recebiam armas e munição. Um arsenal bélico sempre mais moderno e com maior poder de fogo que aquele utilizado pelas tropas que os combatiam.  

      Além do medo, os cangaceiros exerciam fascínio entre os sertanejos. Entrar para o cangaço representava, para um jovem da caatinga, ascensão social. Significava o ingresso em uma comunidade de homens que se gabavam de sua audácia e coragem, indivíduos que trocavam a modorra da vida camponesa por um cotidiano repleto de aventuras e perigos. Era uma via de acesso ao dinheiro rápido e sujo de sangue, conquistado a ferro e a fogo. “São evidentes as correlações de procedimentos entre cangaceiros de ontem e traficantes de hoje. A rigor, são velhos professores e modernos discípulos”, afirma o pesquisador do tema Melquíades Pinto Paiva, autor de Ecologia do Cangaço e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.  
  

3 comentários:

  1. Quem praticava mais atrocidades, os cangaceiros ou as volantes?

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    1. Não sou historiador e por isso acho dificil de responder com exatidão. Para mim, a diferença é que as volantes faziam seus atos hediondos julgando estar perante a lei, ou acima dela, os sertanejos simplesmente tinham que aceitar... Agora os cangaceiros, já eram "ilegais" e todos sabiam, asssim como o primeiro que eles eram violentos, mas bem eu não sei dizer quem praticou mais atos de crueldade.

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  2. Sendo uma figura dividida, tanto por sertanejos da época, tanto por historiadores, por que será que a figura do Lampião é tão valorizada no nosso nordeste brasileiro como uma figura de herói??

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